Brasil • atualizado em 10/01/2022 às 11:16

Mortes em Capitólio São 10, metade da mesma família; lancha alterou rota

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).

Dos dez mortos pela queda de rochas nos cânions de Capitólio (MG), no sábado, 8, cinco eram de um mesmo núcleo familiar. Outras duas vítimas eram mãe e filha; ambas com os namorados. Além deles, as vítimas são dois amigos e um marinheiro. Todos estavam na lancha chamada Jesus, que foi diretamente atingida pelo deslocamento de pedras. Segundo familiares e marinheiros, a embarcação havia alterado a rotina, indo diretamente para o cânion, em vez de fazer uma parada turística comum, a pedido dos viajantes.

Neste domingo, 9, em Passos, a 100 km de Capitólio, a dor dos que foram ao Instituto Médico-Legal (IML) identificar os corpos e fazer exames de DNA (para os que não eram possíveis de ser identificados), era por rostos conhecidos. Pais, mães, padrastos, filhos, primos, sobrinhos e amigos. Quase todos, de uma forma ou outra, tinham relação.

Entre os cinco mortos da mesma família, o policial militar reformado Sebastião Teixeira, de 68 anos, era casado com Marlene Teixeira. Eles eram pais de Geovany Teixeira da Silva, de 41, e avós de Geovany Gabriel Teixeira da Silva, de 14. Além deles, Thiago Teixeira, de 30, era sobrinho do casal. Outras duas vítimas, Carmen Pinheiro da Silva, de 41, e Camila da Silva Machado, de 21, eram mãe e filha. Carmen era namorada de Geovany, filho de Sebastião e Marlene. Camila também embarcou na lancha com o namorado: Maycon Douglas Deosti, de 25 anos.

Também morreram no acidente o marinheiro Rodrigo Alves dos Santos, de 40 anos, e os amigos Rodrigo Marinho e Júlio Antunes. O acidente deixou 32 feridos, 23 liberados na Santa Casa de Misericórdia de Capitólio. A unidade da Santa Casa de Passos recebeu duas vítimas, ainda em quadro estável. Já a Santa Casa de Piumhi atendeu duas com fraturas abertas, mas já liberadas. Outros quatro foram levados para a Santa Casa de São José da Barra e também tiveram alta.

Perda

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Sentado em um banco do IML, olhar perdido em um ponto do teto, o pai de Maycon, Jânio Rodrigues, de 49 anos, reunia o que lhe restava de forças para perguntar ao legista se o corpo do filho seria liberado ainda ontem. O trabalho é lento. A maior parte das vítimas precisa ser reconhecida pelo exame de DNA: o impacto da rocha sobre o barco tornou o trabalho forense quebra-cabeças. “Ele era tudo…tudo. A mãe está lá em casa inconsolável”, diz o homem que saiu de Sumaré, na região de Campinas, às 5 horas, para fazer “a pior viagem de sua vida”.

Ao seu lado estava Eleandro Pinheiro da Silva, de 39 anos, irmão de Marlene e tio de Camila, a namorada do filho de Jânio. Olhos vermelhos, cabeça baixa, precisaria colher sangue para o exame de identificação. Tentava falar algo, mas não conseguia. Apenas balançava a cabeça e esperava.

Do lado de fora, Marileide de Fátima Rodrigues, de 37 anos, era amparada pela família. Ela é mulher do marinheiro Rodrigo, que pilotava a lancha. Havia 5 anos o casal se mudou de Betim para Capitólio. Agora, ela fará sozinha o caminho de volta. “Aquilo era a vida dele. Morreu fazendo o que mais amava. Não sei o que dizer.”

Fora de lugar

É o cunhado dela, Leandro Eduardo, que tenta, então, explicar o que ouviu de marinheiros e funcionários do píer de onde partiu a lancha. “Não era para ele estar naquele barco. Normalmente ele pilotava outra. Ele pediu para ir na Jesus”, diz. Segundo ele, a ordem das paradas também foi alterada. “O primeiro lugar que ele pararia seria a Lagoa Azul, mas um dos turistas pediu para ir para a região dos cânions antes. Ele foi.”

Já os familiares tiveram de ir a Passos ontem. Entre eles, a mãe de Giovany Gabriel, de 14 anos, Vanessa Oliveira Ferreira, de 33 A família mora em Serrania, na região de Poços de Caldas. No sábado, o menino deixou a cidade para o passeio ao lado dos avós, do pai e da namorada. Agora, nada parecia capaz de segurar a mãe em pé. “Ele era um menino doce.”

No início da noite, uma equipe do IML de Belo Horizonte chegou ao local para auxiliar na identificação dos corpos. O trabalho pode se estender por até 30 dias. A dor dessas famílias ainda vai se arrastar. “Não sei como vai ser. Não, sei”, dizia a mulher do marinheiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Emilio Sant’anna – Estadão Conteúdo.

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