Mesmo quando já não têm mais o vírus no corpo, pacientes que passaram pela covid-19 relatam uma série de sequelas, que vão desde a perda de olfato até dificuldades em deglutir alimentos. Nutricionistas, por sua vez, afirmam que uma alimentação saudável e adequada pode ajudar na recuperação desses problemas.
“Não há um nutriente ou um tipo de alimento que vá tratar os sintomas, mas sabemos que com uma dieta adequada, junto aos tratamentos necessários, os pacientes têm melhores respostas”, explica Luciana da Conceição, mestre e doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que, junto a Júlia Dubois, coordena o Ambulatório de atenção nutricional para paciente pós-covid-19.
Sônia Alscher, professora de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), concorda e acrescenta que a doença é capaz de alterar o estado nutricional de quem a contrai. “A falta de apetite, de paladar e de olfato levam à baixa ingestão alimentar, o que afeta o estado nutricional.”
Para as profissionais, pacientes que desenvolvem quadros mais graves sofrem mais prejuízos nutricionais. “O tempo de internação prolongado em UTI pode levar a dificuldades de deglutição devido à intubação”, exemplifica Sônia.
Luciana afirma ainda que, como as internações por covid-19 podem ser longas, o indivíduo pode apresentar perda acentuada de massa muscular e, por conta disso, apresentar redução de suas funcionalidades.
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Conforme o estudo italiano Nutritional management of covid-19 patients in a rehabilitation unit, a desnutrição por causa de infecções agudas da covid-19 parece ser uma sequela recorrente. Os pesquisadores destacaram que, entre os pacientes acompanhados, 45% tinham alto risco de desnutrição, outros 26%, risco moderado.
A pesquisa publicada na revista científica European Journal of Clinical Nutrition (EJCN), em maio de 2020, mostrou também que 90% dos 50 pacientes que passaram pela Unidade de Reabilitação da Covid-19 do Instituto Científico San Raffaele, em Milão, entre março e maio de 2020, apresentaram algum grau de disfagia – dificuldade de deglutição. Por conta disso, necessitaram de uma dieta modificada durante a recuperação.
Nesse sentido, as profissionais brasileiras acreditam que a ingestão de determinados nutrientes ou a suplementação pode fazer com que o paciente recupere suas funcionalidades de forma mais rápida. “Quando se pensa na alimentação, se pensa na questão do paladar. Mas a nossa função, como nutricionistas, é maior”, afirma Júlia, mestre e doutora em Bioquímica pela UFRGS. Preparações rápidas são mais indicadas, a fim de que o paciente direcione mais esforços à recuperação. “As pessoas só pensam no comer, mas existe toda uma preparação e uma movimentação prévia para você sentar e comer”, diz Júlia.
Pensando nisso, Júlia e Luciana criaram o Ambulatório de atenção nutricional para paciente pós-covid, um projeto de extensão vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece assistência nutricional a pessoas que convivem com sequelas do vírus. Para ter acesso ao serviço gratuito, o paciente deve ter mais de 18 anos e ter sido internado na rede hospitalar pública ou privada da grande Florianópolis por conta da doença. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail nutricovidufsc@gmail.com ou pelo WhatsApp (48) 9 9998-6257.
Mauri Sérgio de Souza é um dos pacientes do ambulatório. O gerente comercial, de 53 anos, ficou hospitalizado cerca de 30 dias com covid – 18 deles intubado. Durante o período, perdeu aproximadamente 10 kg. Com isso, relata ter ficado debilitado e mais fraco. “Eu não conseguia nem mesmo levantar um garfo”, conta. A alta hospitalar significou apenas a volta para casa, pois o processo de recuperação segue até hoje.
Em um primeiro momento, Souza buscou acompanhamento de fisioterapeutas e psicólogos. Em junho, passou a contar com o atendimento do ambulatório da UFSC. Orientado pelos profissionais, conta ter passado a consumir mais frutas e verduras. E bebe mais água. As mudanças alimentares, na opinião dele, permitiram aliviar os sintomas de fadiga. “Faz pouco tempo, mas já tenho me sentido mais disposto”, afirma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Leon Ferrari, especial para o Estadão