Brasil • atualizado em 19/07/2025 às 21:19

Transporte público precisa de atualização, destaca o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos

Transporte público precisa de atualização, destaca o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos
Transporte público precisa de atualização, destaca o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos

Em visita às obras do terminal Praça da Bíblia, em Goiânia, o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos, Edmundo Pinheiro, fez uma análise sobre o transporte público hoje e a necessidade de atualização da oferta.

Ele explicou que, desde 2013, ocorreu a queda de pessoas que usam o transporte público e isso tem acendido um alerta no setor. “O transporte público coletivo em todo o Brasil, desde 2013, passou por um processo de encolhimento em todo o Brasil, praticamente desde as grandes cidades às pequenas cidades, houve um aumento do transporte individual com uma redução dos modais coletivos. Isso levou o setor a uma crise, e que, na pandemia, isso se agravou”, explicou.

Edmundo Pinheiro, ao ser entrevistado pelo diretor do Portal Diário de Goiás, Altair Tavares, explicou que tem feito várias incursões ao Governo Federal para debater a qualidade do transporte ofertado em todo o território brasileiro. “O Governo Federal se afastou por inteiro das políticas públicas voltadas a promover o transporte; apenas são algumas ações pontuais voltadas a financiamento para a aquisição de veículos e para infraestrutura. O pouco que já é feito é muito relevante, o exemplo está aqui: o BRT Norte-Sul de Goiânia, que foi contemplado pelo Pacto da Mobilidade nesses últimos 10 anos, mas, ainda assim, é muito pouco.”

Acompanhe a íntegra da entrevista de Edmundo Pinheiro a Altair Tavares

O senhor assumiu, recentemente, a presidência da Associação Nacional de Transportes Urbanos. Desde alguns anos, já temos percebido que há muitas novidades no transporte coletivo no Brasil. O que está acontecendo em Goiânia seria precursor dessa parceria entre o poder público e empresas?

O transporte público coletivo em todo o Brasil, desde 2013, passou por um processo de encolhimento em todo o Brasil, praticamente desde as grandes cidades às pequenas cidades, houve um aumento do transporte individual com uma redução dos modais coletivos. Isso levou o setor a uma crise, e que, na pandemia, isso se agravou. Mas, desde a pandemia, várias cidades, por exemplo, em Goiânia, têm buscado alternativas exatamente para que o transporte público seja revitalizado, porque há uma constatação — não é só no Brasil, hoje isso é em todo o planeta — que não existe uma solução sustentável para as cidades que não seja uma mobilidade apoiada nos modais coletivos.

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Cada vez mais que o transporte coletivo perde relevância na matriz de mobilidade, isso agrava as condições de trânsito, as condições de circulação, por isso que não há caminho para as cidades que não seja investir no transporte público coletivo de qualidade. E é isso que esse projeto Nova RMTC busca: promover uma grande transformação, uma qualificação do serviço para que ele fique mais atrativo, mais competitivo e possa ter uma participação maior na matriz de mobilidade da cidade, contribuindo para uma mobilidade mais sustentável e para que a cidade, os espaços públicos, possam ser devolvidos às pessoas, e não ocupados por inteiro pelos automóveis.

O crescimento da percepção sobre a qualidade do transporte coletivo em todo o Brasil tem sido como?

Isso é um consenso entre todos os especialistas e todos que lidam com o transporte público: que há uma necessidade de melhorar a qualidade do serviço. O transporte público, em razão dessa crise desde 2013, se degradou, perdeu oferta, perdeu qualidade e não há outro caminho para a sua recuperação, que não seja exatamente a sua modernização, para que a gente possa entregar um serviço à população de mais qualidade e também de maior eficiência.

Nos grandes centros urbanos, a complexidade da infraestrutura das cidades está levando obrigatoriamente as pessoas, no futuro, ao transporte coletivo.

Sem sombra de dúvida. Eu acabei de vir agora, há um mês, de um grande evento internacional promovido pela União Internacional de Transportes Públicos, que reuniu, lá em Hamburgo, na Alemanha, 5 mil especialistas dos cinco continentes, e é consenso entre todos os especialistas nas principais cidades do planeta — especialmente nas cidades mais desenvolvidas — a importância de se investir em transporte público de qualidade. Isso tem sido uma prioridade nas cidades europeias, na Ásia, nos Estados Unidos. Hoje há mais de 100 projetos de BRT, como esse que a gente está vendo aqui em Goiânia.

Então, é um consenso, de fato, global de que as cidades precisam investir em transporte público, sob pena de agravar as questões ambientais, agravar as questões de circulação e, na verdade, degradar a própria qualidade de vida. O nosso lema tem sido: a cidade tem que ser para as pessoas e não para os automóveis e, para isso, a gente precisa e depende de um transporte público eficiente.

Na COP30 há espaço para debater esse assunto?

Sem dúvida. Hoje, na COP30 e em outros grandes eventos internacionais, o transporte é visto como um dos principais indutores para a questão da sustentabilidade ambiental. Hoje, com a chegada de novas tecnologias, como os ônibus elétricos e também os ônibus movidos a gás e biometano, são instrumentos poderosos para contribuir com a redução da emissão de poluentes e, também, na medida em que o transporte coletivo ganha maior participação na mobilidade, há uma redução dos modais individuais, que são modais bastante poluentes. Hoje, para você ter uma noção, um ônibus articulado de 26 metros de comprimento, elétrico, polui menos que uma motocicleta de 125 cilindradas.

É um exemplo concreto disso, e sem contar outros benefícios que vão além da questão ambiental, mas da própria qualidade de vida para as pessoas nas cidades.

Em Goiânia, especificamente, o Governo Federal e a Prefeitura investiram no BRT. O Governo Estadual e também a Prefeitura investiram no sistema, no geral. Mas em outras cidades, em outros locais, essa presença do Governo Federal é notada ou seria essencial que houvesse uma reorganização do orçamento federal para o transporte?

Nós temos conversado com o Governo Federal. Eu mesmo, semana passada, fui recebido pelo Secretário Nacional de Mobilidade do Ministério das Cidades e temos discutido exatamente uma agenda nacional para o transporte público. Mas a gente precisa constatar que não há uma política nacional hoje, no atual governo, e mesmo no governo passado, voltada ao transporte público. O que existe é… O Governo Federal se afastou por inteiro das políticas públicas voltadas a promover o transporte; apenas são algumas ações pontuais voltadas a financiamento para a aquisição de veículos e para infraestrutura. O pouco que já é feito é muito relevante. O exemplo está aqui: o BRT Norte-Sul de Goiânia, que foi contemplado pelo Pacto da Mobilidade nesses últimos 10 anos, mas, ainda assim, é muito pouco.

O que a gente precisa, verdadeiramente, é de uma política nacional para o transporte público, para as cidades brasileiras, em que o transporte público seja tratado como uma prioridade e, nesse sentido, a gente possa ter todos os entes federativos — da União aos Estados e Municípios — somando esforços nesse sentido. Goiânia traz um grande exemplo. Nós vamos ter aqui, dia 28, a reunião da Frente Nacional de Prefeitos e sempre Goiânia é muito comentada pela sua governança metropolitana. É uma cidade que conseguiu construir um arranjo interfederativo no qual é possível a soma de esforços de maneira unificada e integrada do Estado e dos municípios da região metropolitana, e essa é a governança metropolitana que propicia investimentos como a gente está assistindo aqui.

E é um exemplo do que precisa ser feito, por exemplo, no entorno de Brasília. O entorno de Brasília vive um problema de transporte dramático. É o maior problema da região do entorno do Distrito Federal, onde você tem um milhão e meio de pessoas que, em grande parte, trabalham em Brasília, mas estão com uma situação extremamente precarizada, gastando, às vezes, duas, três horas. De alto custo.

De altíssimo custo. Para você ter uma ideia, enquanto a tarifa em Goiânia é R$ 4,30, com muitos benefícios tarifários, a região do entorno tem uma tarifa, muitas vezes, acima de R$ 10,00 e com poucos benefícios tarifários, como o bilhete único, passe livre estudantil. Então, são exemplos de que esse modelo, essa governança metropolitana é um exemplo que Goiânia tem para o Brasil. Não é por outra razão que a Frente Nacional de Prefeitos está se reunindo aqui para aproveitar dessa experiência aqui da região metropolitana de Goiânia, que atualmente tem o projeto Nova RMTC, liderado pelo Governo do Estado, mas com enorme comprometimento e participação do município de Goiânia e de municípios da região metropolitana, como a gente viu aqui: o Senador Canedo com uma participação muito ativa, Aparecida de Goiânia e outros municípios se somando ao Estado e à capital para a solução e o avanço desse problema.


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Altair Tavares

Editor do Ciberjornal que sucedeu desde fevereiro de 2025 todo o conteúdo do blog www.altairtavares.com.br . Atuante no webjornalismo desde 2000. Repórter, comentarista e analista de política. Perfil nas redes sociais: @altairtavares