A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, em ato por pedido de ”socorro” irá suspender todos os atendimentos eletivos – consultas, exames e cirurgias, marcadas para a esta terça-feira (19). De acordo com a entidade, a paralisação, que será nacional e deve atingir todas as instituições de saúde filantrópicas no Brasil, foi uma forma encontrada pelas mais de 2 mil Santas Casas brasileiras para mostrar à sociedade e ao poder público que elas enfrentam uma das piores crises de sua história e que, se nada for feito, a suspensão da assistência poderá ser definitiva, por total falta de condições de funcionamento dos hospitais.
De acordo com a superintendente Geral, Irani Ribeiro, atualmente a entidade trabalha com uma tabela muito ”desafada”. ”Funcionamos com uma tabela muito desafada. Um dos exemplos, é uma consulta médica a R$ 10 reais e o médico recebe depois de 60 dias. Uma cirurgia, R$ 120 reais e o médico recebe depois de 60 dias”, destaca Irani Ribeiro em entrevista à rádio Bandeirantes Goiânia na manhã desta segunda-feira (18), e ainda afirma que a unidade não possui nenhum laboratório que trabalha com a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS). ”Nós pagamos além do valor SUS, mais 40% para complementação. Ou seja complementamos os exames”, disse.
Segundo a superintendente, em 2021, a Santa Casa de Goiâna atendeu uma alta demanda do SUS. Sendo 41 mil de consultas, mais de 7 mil cirurgias, mais de 40 mil atendimentos laboratoriais por mês. ” 96% da nossa produção é SUS. É um hospital susdependente”, disse Irani.
Irani reforça que a situação financeira das unidades está crítica nesse período pós pandemia principalmente após alta nos preços dos medicamentos. A superintendente conta que antes, o valor de uma ampola para anestésico utilizado para cirurgias, custava R$ 1,90 , agora, essa mesma ampola custa R$ 245.
Essa situação tem ficado mais difícil para a Santa Casa porque segundo a superintendente,a cada semana os preços dos medicamentos sobem. ”Está faltando medicamentos no mercado, e quando encontramos o preço é altíssimo. Então, as Santas Casas estão passando por muitas dificuldades”, frisa.
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De acordo com Irani, há um ano atrás, as Santas Casas conversaram com presidente da República pedindo ajuda, segundo ela, mostrando que durante a pandemia 70% dos leitos ocupados para tratamento da Covid-19 são das instituições filantrôpicas. ”Nós temos um papel social muito grande, mas precisamos ter recursos para continuar salvando vidas. E hoje salvar vidas está ficando muito caro” disse.
No ano passado, segundo a superintendente, o governo fedral prometeu R$ 2 bi para serem distribuidos às Santas Casas, seguindo as suas produções, para liquidar um pouco das dívidas. ”Nós estamos financiando o SUS, estamos emprestando recursos para cubrir uma tabela que hoje ninguém quer trabalhar com essa tabela”, destaca.
Discrepância
A Santa Casa relembra o histórico dos números ao longo dos últimos tempos: nos últimos 28 anos, desde o início do Plano real, a tabela Sistema Único de Saúde (SUS) e seus incentivos foi reajustada em média em 93,77%. No mesmo período, o INPC subiu 636,07%, o salário-mínimo 1.597,79% e o gás de cozinha 2.415,94%.
Este descompasso brutal representa R$ 10,9 bilhões de reais por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviços ao SUS pelas filantrópicas. Irani Ribeiro de Moura destaca que há uma enorme discrepância entre os valores recebidos e os custos da assistência prestada, principalmente à parcela mais carente da população que depende do SUS e representa mais de 95% dos atendimentos da Santa Casa.
As Santas Casas apoiam a melhoria da remuneração de todos os profissionais de saúde, mas, com esse PL, teriam impacto estimado em R$ 6,3 bilhões de reais por ano, sendo que este extraordinário montante financeiro não está ancorado em nenhuma espécie de fonte de financiamento, tornando insustentável seus funcionamentos e estabelecendo-se definitivamente a falência dos hospitais.
Além da paralisação no dia 19, no dia 26 de abril, haverá uma grande mobilização das Santas Casas em Brasília. A meta é alertar sobre a crise e também para os impactos da aprovação do PL 2564/20, que tramita na Câmara Federal e fixa os pisos salariais dos profissionais de enfermagem.
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