Destaques • atualizado em 25/04/2017 às 10:00

2 mil moradores de rua em Goiânia; Movimento prepara seminário

Grupo do MNPR reunido prepara seminário
Grupo do MNPR reunido prepara seminário

 

Existem mais de duas mil pessoas vivendo nas ruas de Goiânia, em diversas partes da cidade. A informação é do coordenador em Goiás do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), Eduardo de Matos, que critica com veemência a estatística da Prefeitura de Goiânia de 2016, que contava 351 pessoas  nessa lista.

Quem se interessa pela discussão, poderá conferir nos dias 26, 27 e 28 de abril o V Seminário Povos de Rua – Equidade Social: Garantia de Direitos e Políticas Públicas, idealizado pelo MNPR, Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), Coletivo Liberdade, Consultório na Rua (SMS – Goiânia), Coordenação de Promoção de Equidade em Saúde (GEPE) e Superintendência de Políticas de Atenção Integral à Saúde (SPAIS), ambos ligados ao SUS e à Secretaria de Estado da Saúde de Goiás.

O V Seminário Povos de Rua terá uma série de atividades, como oficina de musicalidade, roda de conversa, vivência coletiva, oficina de redução de danos, um abraço coletivo no Monumento ao Trabalhador, apresentação ao ar livre do Teatro do Oprimido intitulada Nós Somos Nós que Ninguém Desata, duas mesas redondas e show da Banda Coró de Pau e do Bloco Desencuca (veja programação no Folder).

Segundo Eduardo de Matos, o objetivo das realizações do seminário é romper com o estigma social e com o preconceito a que está exposta a população em situação de rua. “Trabalhamos para criar um vínculo de reconhecimento do trabalhador que tem lugar na sociedade, moradia e aceitação pública com as pessoas em situação de rua, que não têm direitos trabalhistas garantidos, justamente pelo estigma, mas que também são trabalhadores e cidadãos.”

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Consciência política

Matos estima que 70,9% da população de rua desenvolvem atividades para garantir um sustento mínimo, vendendo água, balas ou lavando carros, catando latinhas, recolhendo papelão para reciclagem. “São trabalhadores que não têm um curso profissionalizante, nem oportunidade de emprego formal. Não conseguem se posicionar nesse mercado de trabalho pela ausência de outra série de fatores como endereço fixo, higienização pessoal, alimentação adequada”, analisa.

Conhecedor íntimo da realidade e da vulnerabilidade dessa população, Matos tem sua própria experiência para contar. Vem de uma trajetória de dependência química e de situação de rua de dez anos. Há cinco anos, conseguiu se reabilitar. Saiu das ruas e passou a lutar pelos direitos das pessoas que vivem nessas condições.

“Nossa expectativa é de romper com o estigma de que na rua só tem vagabundo, marginal e drogado. Por isso, o objetivo é lutar pela equidade social e pela garantia desses direitos”, diz Matos. Segundo ele, o movimento vem dando consciência política a essa população.

Todos estão percebendo que perder a casa e a família, perdendo por tabela a estima da sociedade, não significa perder também a inteligência, a sensibilidade e os direitos de cidadão, nem a capacidade de se organizar e lutar. E é isso que estão fazendo agora, com mais este seminário.

Articulação

A expectativa de Matos é de que pelo menos 200 cidadãos em situação de rua compareçam ao evento. Na sexta-feira, 28, as atividades vão tomar o dia todo. “Vamos preparar um almoço contando que haverá 200 pessoas de rua, além dos outros públicos”, comenta.

Coordenador do movimento em Goiás por votação popular, Matos diz que o caráter democrático é essencial na luta. Tudo deve ser debatido de baixo para cima, nada deve ser imposto em função de um poder ou outro, porque aí não funciona.

A organização do evento busca sempre garantir o protagonismo da população de rua. “Articulamos de forma que cada um dos parceiros ficou responsável por alguma questão. Um, a estrutura; outro, a alimentação; e outro, a mobilização”, comenta Matos. Os responsáveis pela articulação vão às ruas convidar as pessoas. Além disso, providenciam o transporte a partir de diversas regiões da cidade.

É visível nas ruas do centro de Goiânia, e nos bairros que circunscrevem a região central, o aumento da população em situação de rua. Junto com essa estatística, a violência também aumenta. Em 2012, foram 47 homicídios, além de outras sete tentativas de assassinato, segundo Matos. Foi o ano mais violento, e foi quando o movimento surgiu.

“Na verdade nem sabíamos que tínhamos algum direito. É assim que a sociedade nos diz: ‘Você está nessa situação porque você não é um nada, e é o culpado por estar assim.’ De repente, começamos a ver que temos direito, que há toda uma construção política por trás de tudo, e começamos a nos articular”, Diz Matos.

O coordenador lembra que no início deste ano houve uma chacina contra moradores de rua com quatro mortos. “Infelizmente, a violência contra a população de rua vem crescendo de novo. E isso nos preocupa”, avalia.

Debates

Para debater questões de segurança pública, emprego, saúde, vulnerabilidade física e psíquica, opressões e liberdade, o V Seminário Povos de Rua contará com a presença de autoridades e militantes do Brasil inteiro, como a defensora pública do Estado de Goiás, Gisela Camillo Casotti Teixeira (mediadora da II Mesa Redonda, no dia 28), o defensor público do Estado de São Paulo, Rafael de Sá Menezes, a procuradora de Justiça do Ministério Público de Goiás, Ivana Farina Navarrete Pena (palestrante da I Mesa Redonda, no dia 28).

Além de outros debatedores, estarão presentes também frei Marcos Sassatelli, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo, Veridiana Machado, educadora social do MNPR do Rio Grande do Sul, e Estefânia Cherulli Fernandes, psicóloga do CAPSad Noroeste e membro do Coletivo Liberdade.

Paralelo ao V Seminário Povos de Rua, haverá um encontro dos coordenadores do MNPR dos 13 Estados brasileiros que contam com o movimento. A reunião será realizada no espaço cedido pelo Sindisaúde, em Goiânia. (Com informações da assessoria do MNPR)


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