Um ‘projeto pioneiro’ no Brasil. É como define Hamilcar Costa, representante do Corpo Docente do Centro Universitário Araguaia, sobre a distribuição de 100 bolsas integrais de estudo para filiados da Aliança Nacional LGBTI+. O programa de inclusão educacional foi criado com objetivo de diminuir o abismo que a dentro da comunidade. Também tem como missão empoderá-los.
Como um Centro Universitário poderia empoderar uma comunidade que sofre tanta violência e preconceitos? “Escolhemos a educação que é a nossa atividade e vocação. Aquilo que de fato não gostamos e nos propusemos a fazer”, pontua Pereira. Então, após uma palestra que ocorreu em junho de 2020 que tratou sobre a negligência que a comunidade LGBTI+ sofria no mundo contemporaneo organizado pela UniAraguaia mas online devido à pandemia um convênio passou a ser desenhado.
A discussão que contou entre diversos especialistas com o diretor-presidente da Aliança LGBTI+, Toni Reis e sensibilizou a direção da direção da entidade educacional. “Ficamos sensibilizados às falas dos palestrantes com relação à violência e preconceito que a população LGBTI+ vem sofrendo”, salientou Hamilcar.
Pudera, pesquisa realizada pelo Grupo Dignidade, da Aliança LGBTI+ em 2015 e 2016, mostrou que 73% dos/das estudantes LGBTI foram agredidos/as verbalmente; 36% foram agredidos/as fisicamente; e 60% se sentiam inseguros/as no ambiente escolar. “O nosso único objetivo é diminuir a homofobia que a comunidade sofre”, mencionou Pereira.
As bolsas serão distribuídas para os cursos à distância ofertados pelo Centro Universitário. A parceria ainda inclui um desconto de 15% para quaisquer cursos de graduação e pós-graduação à distância disponíveis pela UniAraguaia, para filiados da Aliança LGBTI+
“Parceria fundamental para autonomia à comunidade LGBTI+”
O fato das bolsas de estudo serem para cursos à distância é extremamente importante para a comunidade LGBTI+. Se existe muito preconceito e violência à comunidade, este é um motivo para a alta evasão escolar e acadêmica da comunidade. “Essa parceria é fundamental para gente dar autonomia a comunidade LGBTI+ e a questão de não ser presencial é melhor agenda para nossa comunidade, para as pessoas não sofrem o bullying, a violência e a discriminação”, pontua Toni Reis, diretor-presidente da Aliança LGBTI+.
A UniAraguaia então, numa medida pioneira ‘abrir as portas’ é algo que rende elogios por parte da comunidade. “Nesse sentido, a Uni Araguaia abre suas portas de forma muito empática e solidária para a diversidade. Nós estamos muito felizes com a parceria porque uma pessoa que tem o nível superior terá mais capacidade para empregabilidade.”
Claro, o ideal é um mundo sem preconceito onde a comunidade LGBTI+ pudesse estudar sem ruídos, mas é uma alternativa paliativa para qualificar pessoas discriminadas. “Hoje a maior dificuldade de empregar a nossa comunidade a maioria não tem a formação. Então, irá instrumentalizar essas pessoas para o mercado de trabalho. Esperamos que sirva de exemplo para outros Centros Universitários e outras Universidades privadas que ofereçam vagas para nossa comunidade.”, enfatiza.
Preconceito que mata: ‘não é mimimi’
Toni Reis enfatiza que as reivindicações e a luta LGBTI+ em prol de equidade na Educação e no mercado de trabalho, não é uma luta meramente pró-politicamente correto. “Não é mimimi. A intolerância tem aumentado. As pessoas estão achando que elas podem discriminar. Não é mimimi. Você ser motivo de chacota, desistir de estudar, cometer suicídio. A nossa comunidade tem 8% da possibilidade de suicídio do que a comunidade hétero. A idade média de uma pessoa hétero é em torno de 70, 75 anos. As pessoas trans é de 35 anos, por exemplo”, explicou.
Por isso, na visão da Aliança Nacional LGBTI+, convênios realizados com o Centro Universitário são extremamente importantes. Foram 164 inscritos para concorrerem as 100 bolsas que serão formalizadas por meio de um vestibular. O número é abaixo do previsto pela entidade. “A maioria da nossa comunidade não chega a terminar o Ensino Médio”, pontua Reis. “Esperávamos 5 mil inscrições. Mas a gente percebeu que as pessoas não estão conseguindo completar o ensino fundamental e o ensino médio.” Segundo Toni, um programa semelhante será feito para fomentar também a conclusão do Ensino Médio e Fundamental por parte da comunidade LGBTI+.
Projeto Educacional Brunna Valin
O projeto que distribui bolsas de estudos à população LGBTI+ leva o nome da ativista na luta contra a AIDS, Brunna Valin que faleceu no último dia 1º de junho. Ela era integrante do Comitê Consultivo para Políticas de Prevenção para Mulheres Transexuais e Travestis do Programa Municipal de DST/Aids e fazia parte do grupo de articuladoras de prevenção no município, também era diretora do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo, colaborava no Grupo Pela Vidda/SP e era orientadora socioeducativa no Centro de Referência da Diversidade (CRD).
“Com 45 anos completados em janeiro, estudante de ciências sociais, Brunna era exemplo de ativismo e empoderamento, aliando alegria às suas ações nas luta pelos Direitos Humanos. Garra e sorriso largo eram suas características. Fica a boa lembrança de tantas batalhas vencidas e de sua capacidade de superação e a certeza da continuidade do trabalho, de inclusão social e construção de um mundo mais justo e mais diverso, é a melhor forma de honrar a sua memória” escreveu a Agência AIDS no texto de luto à sua memória.