Eric Clapton já havia reclamado de um certo desprezo artístico desde que começou a negar a importância e a eficácia das vacinas para deter a mortandade provocada pela pandemia da covid-19. De repente, ele disse, o telefone passou a tocar menos e as pessoas de que gostava, a se distanciar.
Melancólico, cogitou sair de Ripley, na Inglaterra, para viver com os filhos e a mulher, Melia, em algum outro país que aceitasse melhor suas ideias e seguiu, mesmo diante da comprovada relação da expressiva queda dos casos de covid-19 com o maior número de pessoas vacinadas, em uma inacreditável cruzada negacionista.
Ao lado do irlandês Van Morrison, lançou canções antivacina, esbravejou contra cautelas sanitárias do primeiro-ministro inglês Boris Johnson e se negou a tocar em lugares que exigissem dos fãs qualquer comprovante de imunização.
A bad trip na qual Eric Clapton embarca aos 74 anos não frustra apenas fãs atônitos contrários à sua postura, mas começa a devastar a própria flora que o abriga como um filho desde 1963. Robert Cray acaba de desistir de trabalhar com Clapton em uma turnê depois que o ouviu comparar a escravidão com as políticas sanitárias pró-vacinas na música Stand and Deliver, feita com Van Morrison. A letra diz assim: “Você quer ser um homem livre ou você quer ser um escravo? / Você quer usar essas correntes / Até você estar deitado no túmulo?”.
Cray, um dos maiores guitarristas e cantores de blues de sua era, o pós-1980, velho amigo e colaborador de Clapton, ficou incomodado com a comparação entre vacinados e escravos. Ele, um homem negro nascido na segregacionista Geórgia, em 1953, escreveu ao inglês sobre o desvario da comparação e rompeu a amizade e os negócios. Clapton e Morrison, entre outras frases, disseram em suas recentes parcerias que os “cientistas inventam fatos distorcidos”.
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FOTO COM ABBOTT. O primeiro estranhamento com relação às atitudes de Clapton, disse Cray ao The Washington Post, na tarde de sexta, 12, se deu com a foto em que o guitarrista inglês aparece sorridente ao lado do também guitarrista Jimmy Vaughan e do governador do Texas, Greg Abbott, homem que sancionou projeto de lei proibindo meninas transgênero de participar de esportes femininos em escolas públicas; assinou um projeto de lei para restringir votos de minorias no Estado e proibiu que empresas estaduais exigissem certificado de vacinação dos empregados. Ao jornal, Cray disse mais: “Prefiro não me associar com alguém que está no extremo e sendo tão egoísta”. Isso depois de já ter dito: “Não preciso sair com Eric Clapton para que minha carreira continue”.
A partida de Cray se dá no dia em que Clapton lança o álbum caseiro que fez na pandemia, The Lady In The Balcony: Lockdown Sessions, com 17 músicas gravadas com músicos como Nathan East e Steve Gadd.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Por Julio Maria/Estadão Conteúdo)
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