Destaques • atualizado em 06/02/2018 às 09:53

O dia que Iris triplicou a receita da prefeitura com aumento do IPTU e ITU

Iris Rezende, em entrevista a Altair Tavares, no Solar dos Buritis, em 2014.
Iris Rezende, em entrevista a Altair Tavares, no Solar dos Buritis, em 2014.

Na prefeitura de Goiânia, Iris Rezende, tem um histórico de medidas duras e impopulares, mas necessárias, segundo ele. Uma delas aconteceu no primeiro mandato dele na gestão da capital, iniciado em janeiro de 1966, quando determinou, no primeiro dia, o recolhimento dos talões do IPTU e do ITU daquele ano e mandou refazer a cobrança do imposto. A receita da cidade triplicou.

Iris sucedia o prefeito Hélio de Brito que, por falta de recursos, teve uma administração mal avaliada.

Até o senador Pedro Ludovico Teixeira reclamou com o prefeito, mas ele não voltou atrás (Veja o relato do prefeito abaixo). Mais do que isso, ele confrontou com o líder político da época.

O fato é relatado na dissertação de mestrado em história da jornalista Cileide Alves, de 2008, com o título: Aval do Passado: Iris Rezende – Memória e Política (1958-1982)

Nas páginas 90 e 91, o documento relata como aconteceu, contato por Iris, o processo que, segundo ele, causou-lhe forte desgaste na imagem:

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“Iris tomou posse em janeiro de 1966 no mesmo dia em que começariam a ser distribuídas as cobranças dos impostos predial e territorial urbanos (IPTU e ITU). Sua primeira decisão foi mandar recolher os talões. Iris conta que inspirando-se em Mauro Borges, se imbuiu da mesma coragem que percebera nele para tomar medidas impopulares e decidiu revisar os valores do IPTU e do ITU. Foi um trabalho lento, que levou entre 40 e 50 dias, porque era tudo feito a mão. “Revisamos tudo: Goiânia, Campinas, Vila Coimbra, esses setores mais ricos. Esqueci os setores pobres. Aumentamos mesmo [ele coloca ênfase na palavra mesmo]. Quando saíram esses talões foi aquele grito, parece que Goiânia ia acabar.”

As reclamações chegaram ao ouvido do chefe político do PSD, o senador Pedro Ludovico Teixeira, que mandou chamar o prefeito para tirar satisfação.

Ele me disse: “Ô Iris, você exagerou na dose de aumento desse imposto.” Eu falei: “Dr. Pedro esse sofrimento, esse vexame do dr. Hélio [de Brito] foi pela falta de coragem de cobrar imposto, porque o Mauro deu autonomia à administração, mas não deu dinheiro para a prefeitura. Eu não vou esperar que o governo carregue a prefeitura para mim. Não adianta, então eu tenho que cobrar mesmo.” “Mas Iris, modere, aí.” “Dr. Pedro, o senhor recebeu algum pobre aqui reclamando, sua casa é cheia também de pobres?” “Não.” “Pois quem está reclamando, enchendo a sua cabeça, é o seu cunhado (que era dono do prédio de eletromecânica), é fulano, é beltrano.” Falei os nomes [das pessoas] do relacionamento dele. Eu tive coragem de aumentar no primeiro ano; tive coragem de aumentar no segundo também.

A pressão foi tão forte que Iris afirma que teria recuado se fosse uma pessoa fraca. Ele acha que, se tivesse voltado atrás, sua administração teria sido arrasada, “porque ficaria sem recursos para fazer os investimentos que a cidade reclamava.” No segundo ano, ele aumentou os impostos novamente e teve outra vez de prestar contas a Pedro Ludovico. “Dr. Pedro não deu, foi insuficiente [o aumento das alíquotas], mas não vou aumentar mais, dou minha palavra.” Iris calcula que, quando foi cassado, 90% da população de Goiânia sentiu, “ou mais ou menos”, pois “foi um momento de absoluta decepção e de tristeza”, mas que, nos primeiros meses de sua administração, “se tivessem feito uma pesquisa eu não teria sido eleito nem vereador. Então o líder tem de ter atitude, convicção do que decide, tem de enfrentar.”

A medida repercutiu no caixa do Tesouro municipal. Uma nota na coluna “Notas e Fatos” revelou que a prefeitura conseguira elevar “a arrecadação de 220 milhões (fevereiro) para 685 milhões (abril)” (O Popular, 26/6/66). Não havia pesquisa, mas Iris conta ter percebido na época que a repercussão negativa do aumento de impostos, a falta de recursos para resolver os problemas mais urgentes da cidade e os salários atrasados do funcionalismo desgastaram sua imagem.

Foi quando eu senti que precisava convocar o povo ao trabalho para ajudar a prefeitura. Me lembrei dos mutirões, do meio em que eu passei a infância, vivendo aquilo, o trabalho participativo. Idealizei então fazer o primeiro mutirão. [Houve] muita reserva por parte de alguns auxiliares, temendo que aquilo não pegaria na cidade. Eu entendia, por outro lado, que grande parte da população de Goiânia era oriunda do meio rural. Fizemos o primeiro, foi um sucesso; fizemos o segundo, o terceiro e despertou a atenção nacional.

O objetivo de Iris com os mutirões era mostrar serviço, ganhar tempo, e popularidade, até que a prefeitura tivesse recurso para investir em obras. “Nós começamos com aquele trabalho, aquilo foi crescendo, crescendo, até que a prefeitura tivesse algum dinheiro para começar alguma coisa.” Era mais do que uma estratégia administrativa para resolver problemas imediatos de bairros carentes de toda infraestrutura. Era uma estratégia política: ele misturava-se ao povo para conquistar apoio e se fortalecer politicamente enquanto a prefeitura angariava recursos para iniciar as obras físicas e atender às demandas da cidade. Sua intuição surtiu efeito, e os próprios adversários começaram a se incomodar com os mutirões.


A história do aumento do IPTU e do ITU, em 1966, em comparação com a defesa que o prefeito Iris Rezende faz da administração de Goiânia hoje, reforça que o tão repetido discurso da austeridade e das medidas impopulares faz parte da trajetória do político.


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