Destaques • atualizado em 13/01/2018 às 22:43

Três livros filosóficos fundamentais para entender o mundo

Filófoso Platão (Foto Divulgação)
Filófoso Platão (Foto Divulgação)

Alguns filósofos ficaram marcados na história do mundo pela compreensão que ofereceram dos problemas que, com o tempo, se tornaram ainda mais cotidianos do que na época em que eles escreveram. Questões como o amor, os valores, os princípios, o convívio coletivo e as relações entre pessoas e a natureza estão na agenda.

Aristóteles, por exemplo, foi um dos primeiros a falar sobre tipos de governo existentes, cunhando os termos “República”, “democracia”, entre outros. Em A Política, o pensador grego faz uma longa explanação sobre as maneiras como os homens administram suas sociedades, mostrando ainda como elas podem se degenerar em tipos maléficos. A aristocracia, assim, que é uma boa forma de governo, perde seu valor quando se torna oligarquia.

A compreensão de um “estado de natureza” anterior às sociedades humanas e a fundação delas nos moldes atuais também foi dada por filósofos como os ingleses Thomas Hoobes e John Locke e o suíço Jean-Jacques Rousseau. Ela é utilizada até hoje para muitos estudos e hipóteses sobre a vida moderna.

A seguir, uma lista do blog Altair Tavares de três livros que, assim como todos esses, ajudam a entender a complexidade do mundo atual (Claro, é uma sugestão, e você pode ajudar com a lista, abaixo, nos comentários):

O banquete – Platão

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Os relatos dão conta que Sócrates foi convidado para um jantar na casa do poeta Agatón ao lado de outros escritores, médicos e poetas, mas que a noite terminou com todos os presentes bêbados. No dia seguinte, ao acordarem, a amante do anfitrião, Pausânias, sugeriu que, ao invés de embebedar-se, eles podiam conversar sobre algo. O consenso, ao final, foi de que deveriam fazer discursos sobre Eros, o deus grego do amor.

Em O banquete, portanto, o que se lê é a tradução dessas falas, que teriam sido pronunciadas por volta de 380 a.C, na Grécia. Uma das mais famosas é a de Aristófanes, um comediante que, nas horas vagas, ridicularizava o próprio Sócrates, mas que levantou uma hipótese fundamental durante o encontro: o da unidade primitiva. Para ele, no início de tudo existiam três gêneros de seres humanos, o masculino masculino, o feminino feminino e o masculino feminino ou andrógino. Esses seres tinham duas cabeças, quatro pernas e quatro braços, o que lhes dava habilidades desconhecidas dos seres humanos atuais e que, segundo a história, fez com que eles acreditassem que poderiam lutar contra os deuses.

O resultado disso foi que, perdida a luta contra as divindades, Zeus resolveu castigar os humanos dividindo-os ao meio, ou seja, cortando-os em dois. Os andróginos, agora divididos, passaram a procurar suas antigas metades espalhadas pelo mundo – os homens as mulheres e vice-versa. É por isso que hoje há a ideia da existência de uma “alma gêmea”. Quem era masculino masculino e feminino feminino procuram suas partes perdidas, uma explicação possível para a homossexualidade. O amor, assim, é a procura constante das pessoas pelas suas metades perdidas.

O mito do andrógino, como ficou conhecido, ainda afirma que as pessoas decidiram se juntar em sociedades apenas para facilitar a busca pelo outro que lhes faziam parte. A relação amorosa, dessa forma, é parte da sobrevivência humana. Uma das explicações filosóficas mais utilizadas hoje para entender o amor.

A cidade do sol – Tommaso Campanella

Considerada uma das obras-primas da filosofia ocidental, “A cidade do sol” foi escrita pelo teólogo Giovanni Domenico Campanella quando ele estava na prisão cumprindo pena pela acusação de sodomia por tentar, em seu livro “Philosophia sensibus demonstrata”, de 1591, aliar dogmas cristãos com concepções científicas e religiosas.

Publicado em 1602, a história de Campanella lembra a de José do Egito, contada no Antigo Testamento: depois de ficar quase trinta anos preso, chegou a ser astrólogo do Papa Urbano VIII e amigo do rei Luis XIII, da França, para onde fugiu.

Na obra, ele descreve uma cidade cujos habitantes são felizes, têm suas necessidades essenciais supridas e uma ocupação determinada conforme suas aptidões pessoais – uma utopia que o sociólogo Émile Durkheim trabalharia já no século XX. Na cidade de Campanella, o ócio é inaceitável, porque o trabalho fortalece o bem comum. Para intérpretes da obra, Campanella estava fazendo uma crítica à sociedade europeia, dividida entre riqueza, pobreza e ostentação das cortes.

O governo da cidade do sol é exercido por um sacerdote chamado de “Hoh” ou “O Metafísico”, seguido por três chefes com ocupações específicas: Potência (Pon) – responsável pelas artes militares para proteção da cidade durante a guerra e fora dela para manter a paz; Sapiência (Sin) – quem cuidava das todas as artes, das ciências e mecânicas; e o terceiro, o Amor (Mor) – que era responsável pela geração, alimentação e vestuários.

O Anticristo – Friedrich Nietzsche

Última obra do filósofo alemão antes de seu colapso mental, em 1888, “O Anticristo” é também um dos livros mais famosos da história, o que lhe rendeu fama, mas também muitas leituras equivocadas. No Brasil, é um dos livros mais vendidos, de acordo com a Editora Rideel.

De forma sucinta, ele procura criticar o cristianismo de forma a superá-lo, mas não só: ele também pretendia desmontar o sistema filosófico platônico, que havia influenciado todo o Ocidente. Seu argumento para isso é que tanto a religião cristã como a filosofia moderna são baseadas em valores que impedem o crescimento da vontade humana por essência, restringindo também sua afirmação enquanto ser pensante.

“Para Nietzsche, a religião possui um efeito depreciativo no homem, conduzindo-o à uma vida de fraquezas, cheia de deteriorações, negando o que há de melhor na humanidade, contrariando os instintos de conservação de uma vida que deveria ser focada em uma vontade de poder. Com o cristianismo há um declínio e a compaixão, que seria um dos motivos a priori do cristão, nega a vida, não a valoriza”, diz Hugo Alvarez, professor da USP.

Nesse sentido, a compaixão, que é um dos valores centrais do cristianismo, é duramente criticada pelo filósofo por contrariar a essência humana, aquela em que os mais fortes devem triunfar sobre os mais fracos – como era na Antiguidade. Agregar os excluídos, explica ele, foi um “vício” iniciado pelo Império Romano e que se tornou baluarte das sociedades humanas posteriores. O cristão, então, é aquele plebeu que não sente amor ao próximo, mas ódio aos nobres ricos.


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