Um pequeno avião monomotor da Piper Aircraft. Uma retroescavadeira de pequeno porte. Um pequeno terreno às margens da Rodovia D. Pedro I, em Campinas, em São Paulo. Um galpão inteiro desocupado em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Todos esses bens podem ser comprados até o final de janeiro por meio de um leilão online, algo que em um passado recente era impossível.
Quando os leilões se popularizaram no país costumavam vender poucos tipos de produtos – notadamente carros e imóveis. O mercado de veículos foi o que mais cresceu por causa da diferença de preços e das oportunidades que podiam ser encontradas. Até hoje há pregões em que carros novos são negociados por preços menores do que os praticados nas lojas.
O crescimento do modelo, no entanto, trouxe também mais diversidade. “Nós costumamos vender produtos que as empresas nos pagam para comercializar. Não é tão incomum assim, mas depende de uma demanda que não acontece sempre”, explica o diretor da Sodré Santoro, Flávio Santoro.
“Os leilões são conhecidos pelos carros, mas há muita coisa que pode ser vendida. Escavadeiras aparecem sempre. Aviões são mais difíceis porque raramente alguém coloca um à venda por esse meio, mas de vez em quando acontece”, completa.
O avião em questão, fabricado em 2013 e com licença para voar até 2019 teve lance inicial de US$ 690 mil, mas até o início de janeiro ainda não tinha recebido ofertas. Era usado por uma empresa de aviação privada que a leiloeira não identificou. A retroescavadeira, no entanto, estava em negociação mais pelo chassi, já que estava sem motor. Fabricada pela turca Çukurova, valia R$ 12 mil até janeiro e estava sendo disputada por três usuários do site. Em Campinas, a fazenda localizada no bairro de São Quirino, às margens da rodovia, constava em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Justiça do qual o comprador precisava ter acesso antes de comprar.
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Para além de carros, aviões, tratores e imóveis, um leilão pode também reunir diversas outras mercadorias não tão comuns de encontrar. São produtos que interessam a lojistas, revendedores de peças e comerciantes em geral, mas que por estarem disponíveis a pessoas físicas, chamam a atenção.
Nos últimos meses, por exemplo, a Sodré Santoro recebeu um catamarã de 11 metros de comprimento, um conjunto de carcaças de liquidificadores, dois moedores de carne industriais, uma fonte de chocolate e um kit usado de câmeras e interfones de segurança. Tudo para ser negociado pelos pregões do leilão online.
“Se o proprietário de um bem quer colocá-lo no mercado, a Justiça autoriza, é só disponibilizar na leiloeira e esperar pelos lances”, comenta Flávio Santoro.
As vantagens e os riscos de um leilão desses materiais são os mesmos dos veículos ou propriedades: os novos donos podem agendar visitas para olhar os produtos, mas nem sempre podem testá-los. O lance é dado com base na experiência de cada um em leilões e por uma prévia pesquisa de mercado.
De acordo com dados das agências de leilões, apenas 20% dos clientes dos pregões são pessoas físicas. A maior parte dos compradores, assim, são empresas ou comerciantes interessados nas mercadorias ou em parte delas.
No caso de produtos específicos mais comuns, como a fonte de chocolate, geralmente quem arremata é um consumidor comum. Mercadorias de usos mais complexos, como o catamarã, são colocadas à venda para chamar a atenção de instituições, como transportadoras e agências de carga marítimas. Até novembro do ano passado, a embarcação ainda não havia recebido nenhum lance.
Os preços, nesses casos, são mais difíceis de comparar. O catamarã produzido em 2014 de 11 metros de comprimento e um motor Volvo, ancorado na represa de Guarapiranga, custava R$ 41 mil. Por suas dimensões, ele deve ser usado para transportar veículos de pequeno porte por rotas fluviais.
As sucatas de liquidificadores, no entanto, atendem à demanda de donos de restaurantes ou lanchonetes. A leiloeira colocou na ata que não se responsabiliza pela falta de componentes ou pela situação de funcionamento dos aparelhos, mas o preço pode compensar: R$ 200 por seis liquidificadores industriais, dois espremedores de frutas, dois multiprocessadores e uma batedeira industrial. Os produtos foram penhorados de um restaurante em falência.
O mesmo para o kit de panquequeira, fogão, máquinas de café e uma fonte de chocolate, vendido pela Sodré Santoro por R$ 350 em agosto, usado como pagamento de um imbróglio judicial.
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