Em indicativo de novo tom entre o governo eleito da Argentina e a administração brasileira tocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, avaliou, em coletiva de imprensa neste domingo (26/11), como “produtiva” a reunião com a deputada argentina eleita Diana Mondino, chanceler designada pelo presidente eleito Javier Milei.
Vieira destacou que, a despeito de possíveis falas críticas ao Mercosul, o que vale são as manifestações formais e que há desejo dos dois países em fazer o bloco avançar. “Conversamos, por exemplo, sobre a possibilidade dos corredores bioceânicos, falamos das negociações externas do Mercosul, falamos também sobre a ampliação e aprofundamento das decisões do Mercosul, tema em que temos coincidência, porque queremos um Mercosul maior e melhor para beneficiar a integração regional”, declarou o ministro.
A presidência do governo brasileiro no Mercosul vai até o dia 7 de dezembro, três dias antes da posse de Javier Milei. O novo presidente já defendeu a saída da Argentina do bloco econômico durante a campanha, mas recuou da ideia e passou a defender apenas mudanças. O Mercosul reúne também Uruguai e Paraguai.
Um dos acordos que está sendo negociado pela presidência brasileira é com a União Europeia. Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. A negociação envolve 31 países.
“Eu indiquei a ela em que áreas, durante essa presidência brasileira do Mercosul, que se encerra agora, e com que outros países e outras regiões estamos negociando. Ela manifestou a satisfação em saber. Para mim o que vale é isso. Nós vamos trabalhar juntos com este governo até o final do mandato e depois com o novo governo, sabendo que há esse desejo de avançar no Mercosul”, declarou.
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Posse
Durante a reunião, Vieira recebeu o convite para que o presidente Lula participe da posse do argentino no dia 10 de dezembro. “Não há nenhum tipo de problema, de constrangimento, por qualquer natureza que seja. Os governos organizam as listas de convidados, mandam e os que quiserem aceitam, os que não quiserem não aceitam, mas também há um tratamento diferente para chefes de estado e para convidados diretos”, disse diante da aproximação de Javier Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ministro disse ainda que não teve oportunidade de repassar o convite ao presidente Lula e que a presença dele na posse está sendo avaliada. “O que foi dito durante a campanha é uma coisa, o que acontece durante o governo é outra. Eu não sei qual será, como eu disse, se o presidente poderá ir ou não. Ele estará chegando de uma longa visita ao exterior e terá a cúpula do Mercosul no Brasil”, justificou.
Vieira reforçou os longos e fortes laços de relação diplomática entre os dois países, os quais transcenderam governos. “O que eu posso dizer é que existe entre o Brasil e a Argentina uma relação muito forte, muito importante, que foi inclusive criada a partir dos entendimentos na década de 80 entre o presidente [José] Sarney e o presidente [Raúl] Alfonsín, que construíram toda a base dessa grande cooperação.”
Entre os setores de cooperação, ele destacou energia nuclear, ciência e tecnologia, informática, comércio, indústria e investimentos. “Tudo isso existe e é muito importante. O presidente Lula tem dito que o importante é o interesse nacional e o projeto nacional”, reforçou.
Brics
Sobre a entrada da Argentina nos Brics, bloco que reúne nações em desenvolvimento, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o ministro apontou que é de interesse do Brasil a entrada do país, mas que cabe ao novo governo avaliar. “O governo argentino, na ocasião, era candidato e o Brasil apoiou, porque é uma iniciativa de interesse do Brasil. É também uma questão de equilíbrio da representação geográfica no Brics e, evidentemente, sendo a Argentina um sócio importante do Brasil.”