Os impactos da greve dos caminhoneiros serão sentidos por muito tempo na indústria e na economia brasileiras. Além da queda na produção, no faturamento e do acúmulo de estoques, a paralisação dos serviços de transporte e as medidas adotadas pelo governo para atender aos pedidos dos caminhoneiros aumentaram as incertezas em relação ao desempenho da economia nos próximos meses. “A confiança de empresários e consumidores piorou com efeitos que podem se tornar duradouros na decisões de produção, consumo e investimento”, diz a publicação Fato Econômico, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na avaliação da CNI, a Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas é uma intervenção no sistema de formação de preços. “Tal prática distorce os preços relativos da economia, diminui a concorrência e promove a informalidade”, destaca o Fato Econômico. O tabelamento, alerta a indústria, também aumentará os custos de produção, reduzirá a competitividade dos produtos brasileiros e, em alguns casos, estimulará a importação de insumos e bens industrializados.
“Além do aumento de custos, a solução para a greve trouxe insegurança aos contratos das empresas com os transportadores e isso terá efeitos a médio prazo para a recuperação da atividade econômica, que já vinha sendo prejudicada pelas incertezas em relação ao quadro eleitoral”, afirma o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
A CNI adverte, ainda, que as medidas que permitiram a redução dos preços do diesel pioraram o débil quadro fiscal do país e impuseram sacrifícios à indústria. Exemplo disso é a redução do Reintegra, que aumentou a tributação das exportações, e a eliminação de outros programas de estímulo à produção industrial, como a reoneração da folha de pagamento de alguns setores.
Conheça os principais prejuízos da greve dos caminhoneiros contabilizados pela indústria:
1 – Queda no faturamento: O faturamento da indústria caiu 16,7% em maio frente a abril, na série livre de influências sazonais. A queda foi maior desde 2003, quando começou a série histórica, dos Indicadores Industriais, da CNI.
2 – Redução da produção: As horas trabalhadas na produção diminuíram 2,4% em maio na comparação com abril, na série livre de influências sazonais, conforme os Indicadores Industriais, da CNI.
3 – Aumento da ociosidade: A utilização da capacidade instalada caiu para 75,9% em maio, o menor nível da série histórica, que começou em 2003, mostram os Indicadores Industriais, da CNI. Com isso, a ociosidade da industrial alcançou 24,1%.
4 – Acúmulo de estoques indesejados: O indicador de estoques efetivos em relação ao planejado subiu para 53,3 pontos em maio, conforme a Sondagem Industrial, da CNI. O índice foi o segundo maior da série histórica iniciada em 2010 e só perde para os 53,7 pontos registrados em junho de 2011. Isso mostra que a indústria ficou com excesso de estoques em maio.
5 – Queda da confiança de empresários e consumidores: O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu para 49,6 pontos. Foi a primeira vez desde janeiro de 2017 que o indicador ficou abaixo dos 50 pontos. Isso mostra que a confiança diminuiu em junho. O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) caiu para 98,3 pontos em junho. A queda de 3,8% em relação a maio foi a maior desde abril de 2016. O ICEI e o INEC são pesquisados pela CNI.
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6 – Piora da expectativas: Os empresários estão mais pessimistas com o futuro. A Sondagem Industrial da CNI mostra que, embora mantenham as perspectivas de aumento da produção, os empresários esperam a queda do emprego industrial nos próximos seis meses. A intenção de investimento também diminuiu. A Sondagem Indústria da Construção também mostra queda na confiança e na disposição para investir.