Em uma reveladora entrevista à DW em espanhol, Patricio Vallados, chefe da missão do Centro Carter na Venezuela, expôs uma série de irregularidades que comprometem seriamente a legitimidade das eleições presidenciais realizadas no país em 28 de julho. De acordo com ele, a observação conduzida pela organização revelou problemas graves que minam a transparência e a justiça do processo eleitoral.
“Os Estados Unidos decidiram reconhecer a vitória do candidato opositor Edmundo González Urrutia, que de acordo com Washington teve uma vitória clara,” afirmou Vallados, destacando a discrepância gritante entre os resultados divulgados pela oposição e os proclamados pela autoridade eleitoral venezuelana. Segundo a oposição, González obteve cerca de 70% dos votos, enquanto o Conselho Eleitoral Nacional (CNE), controlado pelo governo, anunciou a reeleição de Nicolás Maduro.
O Centro Carter foi convidado pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela) para observar as eleições e mobilizou uma equipe de 17 especialistas de 11 países. “Estudamos um pouco mais de um mês no terreno, todos em Caracas e em três províncias,” disse Vallados. Durante esse período, a equipe conduziu entrevistas com representantes de todos os espectros políticos, autoridades acadêmicas e organizações da sociedade civil.
Apesar do esforço de observação, Vallados relatou que “houve irregularidades graves que não alcançam os padrões internacionais.” Entre os problemas citados, ele mencionou o registro inadequado de eleitores tanto na Venezuela quanto no exterior e dificuldades no registro de candidaturas. Além disso, a campanha eleitoral foi marcada por uma “situação de desigualdade,” com uma cobertura midiática desproporcionalmente favorável ao oficialismo.
Um dos pontos mais críticos foi a falta de transparência na totalização dos votos. “O CNE deu um resultado no domingo à voz de seu presidente, o senhor Elvis Amoroso, mas os venezuelanos não conhecem a desagregação desses 80% que a autoridade eleitoral mencionou,” explicou Vallados. Ele ressaltou que a ausência de detalhamento impede uma verificação adequada dos resultados.
A entrevista abordou a alegação de um ataque hacker ao sistema eleitoral, algo que Vallados desconsidera completamente. “A autoridade não mostrou evidência alguma desse hackeamento,” afirmou. Ele destacou que a transmissão dos dados das mesas de votação para Caracas foi feita por um canal dedicado, o que tornaria um ataque desse tipo praticamente impossível.
Apesar das críticas, algumas vozes internacionais, incluindo a União Africana e o governo brasileiro, elogiaram o processo eleitoral na Venezuela. “O centro respeita o direito de cada um a emitir as opiniões que consideramos adequadas,” disse Vallados, reiterando a independência e a metodologia robusta do Centro Carter, que tem um histórico de observação em mais de 100 eleições ao redor do mundo.
A conclusão do Centro Carter é contundente: “Uma eleição que não tem garantias não pode gerar mandatos legítimos,” afirmou Vallados. Ele destacou que, sem a divulgação dos resultados detalhados, é impossível validar a legitimidade da reeleição de Maduro.
O chefe da missão também chamou a atenção para a situação dos venezuelanos no exterior, dos quais apenas 60.000 de mais de 5 milhões estavam registrados para votar. “Esta é uma questão crítica que precisa ser resolvida para assegurar a inclusão de todos os eleitores elegíveis,” comentou.
Vallados expressou esperança de que o CNE ainda possa divulgar os resultados detalhados das eleições, permitindo uma verificação pública e transparente. “A transparência é um dos princípios fundamentais de qualquer eleição,” concluiu, sublinhando a importância de processos eleitorais claros e confiáveis para a democracia.