(Artigo originalmente publicado na Revista Goiás Industrial – da FIEG)
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua última reunião (16 de maio), de não avançar na redução da Selic surpreendeu o mercado e o setor produtivo brasileiro, ao colocar fim a um ciclo de 12 cortes consecutivos, iniciado em outubro de 2016. A taxa básica, mantida em 6,5%, influencia diretamente os juros praticados pelos bancos e a interrupção da trajetória de queda ocorre justamente no momento em que a sociedade pressiona o sistema financeiro pela redução do spread bancário, aquela inaceitável diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar
o mesmo dinheiro.
Enquanto a Selic despencou 52,6% nos últimos 20 meses, o spread bancário recuou apenas 14,7%. Temos uma das mais altas taxas de juros do mundo, atrás somente da Rússia e da África do Sul. Ao mesmo tempo em que a sociedade brasileira sofre com as consequências da crise econômica histórica – convivendo ainda com 13,7 milhões de desempregados –, acompanhamos inertes as notícias de lucros recordes dos bancos que atuam no Brasil.
Somente em 2017, o lucro líquido dos quatro maiores bancos cresceu 14,6%, superando a cifra de R$ 57 bilhões. Dados recentes mostram que a taxa média do cheque especial é de 324,7% ao ano e do cartão de crédito rotativo, de 334,5% ao ano. Na última década, vimos o PIB brasileiro despencar e o lucro dos bancos aumentar incríveis 123,3%.
A lógica no Brasil está invertida! O crédito é proibitivo, prejudicando a recuperação
da economia e a geração de emprego e renda. A consolidação da retomada do
crescimento depende diretamente do aumento dos investimentos produtivos, que ficam à mercê dos altos juros cobrados pelos bancos nas operações de crédito, revelando preocupante aspecto de um sistema financeiro distorcido e ancorado em preço, e não em volume de financiamentos. Isso significa um enxugamento do dinheiro no mercado, impedindo investimentos e a criação de novos postos de trabalho.
É urgente o fomento à competição bancária, descentralizando os ativos do sistema, pulverizando o acesso ao crédito e ampliando a oferta com taxas acessíveis. Hoje, apenas quatro bancos detêm 80% do crédito concedido no País – um ‘cartel’ que tem o poder de formar as taxas ao tomador final, tornando missão impossível alavancar o setor produtivo e o emprego em nosso país. O cenário e os números causam repulsa: enquanto os bancos vão muito bem, o Brasil segue de mal a pior.
Pedro Alves Oliveira, Presidente da Federação das Indústrias de Goiás e do Conselho Deliberativo do Sebrae GO